20051002
Silenciosamente por kristho

uma luz acesa atrás do cortinado
confirma-me que ainda existes,
uma luz que funciona como farol
como razão de respirar,
vejo o cortinado mexer-se
e rezo por ver tua sombra,
mesmo que seja longe
sei que vou reconhecer o teu corpo de deusa,
uma deusa negra,
por quem morro de amor,
por quem sou capaz de viajar todo o mundo
seguindo uma mera luz
com a esperança de na sombra da luz
ver tua imensa beleza,
mesmo que seja em uma ilusão opaca,
fico sentado enquanto aguardo,
sinto a quente lágrima da saudade
a cair por meu rosto,
ouço o comboio que passa por trás de mim,
e penso na vida das pessoas que viajam,
umas acertam, outras erram,
mas mesmo assim o comboio não para,
não existe bilhete de regresso,
apenas a mera esperança de o planeta ser redondo,
e tudo volte ao ponto de partida,
à estação de onde partimos,
e o comboio trouxe-me exactamente
ao ponto de onde tinha saido,
onde tantos os dias esperei por ver o teu acordar,
e hoje espero escondido que te deites,
numa espera por ver a tua figura celestial,
ouço o silvo ao longe,
lá vai o comboio,
mais uma volta, mais uma viagem,
pobres loucos, mal eles sabem
que o maior tesouro está ao pé de mim,
por detrás daquele cortinado
inalcançável, branco, de algodão,
um mero cortinado que esconde
o segredo mais bem guardado da humanidade,
mostra-te, porque te espero,
porque está frio cá fora,
porque ameaça a chuva,
a chuva, o que me recorda a chuva,
como se tivesse o significado num dicionario
escrito numa qualquer lingua estrangeira,
que já soube decifrar,
correm-me as lágrimas como nesse dia,
será que vais aparecer?

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