Poesia do Silencio

Tenho cinco dedos em cada mão,
e mais cinco dedos em cada pé,
tenho dois braços,
tenho no peito um coração,
duas pernas, lado a lado,
tenho pescoço, e tenho olhar,
castanho, para não ser de estranhar,
sorrio e choro,
deito lágrimas como outro mortal,
converso e falo sem pensar,
sou impulsivo, sei amar,
e odiar, e deixar...
passar o tempo, as tempestades,
sei esperar, sem receber,
e dar,
como se não houvesse nada a perder,
não sou deus, nem grego, nem nada,
não vou ao ginásio,
em raras vezes corro,
tenho o mais provável destino
de quem vive dia a dia neste mundo,
desaparecer um dia, ser esquecido,

não espero cores em filmes
realizados a preto e branco,
nem comédia, na tragédia,
riu-me por nada, sozinho,
se sou louco?
talvez um pouco, lá no fundo,
não sou inteligente,
nem tenho nada de genial,
tenho qualidades como qualquer um,
vou crescendo pouco a pouco,
com o que a vida me vai ensinando
não tenho nenhum truque na manha,
nenhuma frase especial,
e o que escrevo limita-se
a este pequeno coração
que palpita dentro do meu peito,
que mais coisas preciso de fazer?
que palavras dizer? quem preciso de ser?
que mais tem de ser feito?
quem tem de nascer ou morrer
para eu deixar de ser
o quase perfeito?