20060826
Silenciosamente por kristho

Regressei à terra perdida,
na podridão do silêncio,
enrolei um cigarro,
acendi e vi,
a cinza que caia no chão,
aproximei-me do jardim
e vi um pássaro morto no chão
os ladrilhos manchados de sangue,
a cinza do meu cigarro
misturava-se com o sangue
que escorria
daquele pássaro vão,
voaste tudo o que tinhas de voar,
foste criança e caiste,
sorriste, aprendeste,
sonhaste, envelheceste,
caiste, morreste,
sentei-me na terra perdida,
longe de todo o mundo,
naquele mundo onde ninguém existia,
e fumei, inalei profundamente,
relaxei e senti a vida num fio,
senti o vazio do meu coração
que me engolia,
vi o meu reflexo numa lágrima
de chuva, e fugi,
saltei muros, buracos de estrada,
passei vielas, enterrei-me,
cavei o buraco mais fundo
até o sangue sair das minhas unhas,
e senti-me pássaro morto,
quando o amor me fazia voar,
polgada a polgada enchi
a cova onde me enterrava,
fechei-me,
num buraco de onde não devia ter saido,
e por momentos voei novamente,
dancei contigo a valsa ao luar,
sem os pés tocarem no chão,
por momentos, sem ar, respirei,
e o tempo, mesmo por momentos,
momentaneamente andou para trás,
sorri e senti a areia a afastar,
apenas ligeiramente,
contei segundo a segundo
a minha entrada para um outro mundo,
até deixar de contar,
o meu corpo deu um espasmo,
mas a terra não deixou,
fiquei preso, não saio de onde estou,
não morro, nem respiro,
já não sou homem,
já não sei que sou.

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