20060716
Silenciosamente por kristho

Sentei-me a ver as folhas a cair,
Sentei-me e vi o tempo a passar,
Procurei com minhas mãos a brisa,
Senti apenas frio,
Não atingi o pretendido
Parti do principio do fracasso,
Levantei-me de onde me havia sentado e berrei,
Gritei, prostrei meus joelhos no chão
Chorei, olhei em volta,
Rodei sobre mim,
Um movimento de rotação
E vi tudo rodar em minha volta,
E afinal não era eu que rodava
Eram as coisas que rodavam em minha volta,
e as folhas caiam em espiral, e as pessoas faziam tangentes,
e secantes às folhas
Derivando o seu caminho
Integrando-se no mundo que afinal me rodeava
e abraçava
e me aconchegava nos meus devaneios irreais.
Dei largas à minha rotação e choquei com alguém que rodava
E sorri porque não rodava sozinho
Todos eles rodavam
Rodavam sobre si mesmos
E em volta uns dos outros,
Cada qual olhando para cima,
Cada qual pensando que o mundo girava em sua volta,
Então parei de rodar,
E vi que afinal nada rodava em minha volta
Que todos estamos dependentes de outras rotações,
E deixei os outros pobres rodando,
Iludidos que o mundo gira em sua volta,
Em torno do seu nariz,
E ri, um riso alto e forte,
E o meu corpo oxigenou-se,
E fiquei como novo e voltei a ver o tempo a passar,
E tentei mentalmente fazer as folhas parar de cair,
E vi-as parar de cair,
Fechei os olhos e vi as folhas fazerem
Tudo o que lhes mandava,
Ora voavam,

Ora chocavam com quem passava,
E voltei a abrir os olhos
E as folhas continuaram a cair,
Num destino certo,
Regidas pela lei universal da gravidade,
E conformei-me,
Porque é isso que sou,
Sou um pobre conformado,
Com o mundo que me rodeia mas não gira em minha volta
Feliz com a minha capacidade de imaginar
E fabricar na minha mente um mundo à minha medida,
Onde eu e tu somos felizes,
Onde eu e tu nos amamos,
E os outros pobres continuam a girar em torno de si próprios
Pensando que o mundo é apenas aquilo que conhecem
E não aquilo que há para além das fronteiras do conhecimento,
Porque a vida é mais do que os dois palmos de terra a que chamamos
Mundo,
Porque o amor existe e não se aprende porque o amor
É a nossa ilusão de vida e assim vivemos felizes
Porque o amor é a nossa imaginação junta com a de alguém
Porque amor é o que se faz quando duas pessoas se amam
E quando duas pessoas se amam
É porque imaginam um mesmo mundo de felicidade
Onde um e o outro já existiam num plano sobre vida
E estavam à espera do momento físico,
Regendo-se pelas regras desse imenso mundo
Que se chama filosofia.
Porque o homem mede-se pelo conhecimento
Porque um homem só é completo quando se conhece,
E todos nós, interiormente, nos conhecemos
E tememos as nossas capacidades,
E temos medo do mundo dos que giram em torno de si mesmos
E refreamos o que sentimos e andamos em frente
Cegamente, piamente, conformados,
Porque afinal conformados somos todos nós,
Porque afinal um dia todos nós
Paramos de rodar,
Porque um dia todos nós desaparecemos.


0 Desabafos: