20060326
Silenciosamente por kristho

alimenta-me,
porque sou um pobre,
beija-me,
porque sou um pobre,
ama-me,
porque sou pobre,
moro na rua da miséria,
conduzido à desgraça interior,
pelo coração que habita em mim,
abre-me ao meio,
porque sou um pobre,
arranca este virús que me assaltou,
atira-o para longe,
mesmo que por momentos fique calado,
verás a minha alma voar livre finalmente,

estou abandonado
nesta terra de ninguém,
perdido na misera tentativa
de ser alguém,
queima-me,
porque sou um pobre,
imola o meu corpo,
como se de um velho trapo se tratasse,
estala-me os ossos,
porque sou um pobre,
arruma-os numa caixa,
envia-os no mar,
e ver-me-às partir livremente
cala-me,
porque sou pobre

rejeita-me mais uma vez,
não vês que sou pobre por ti,
porque és a minha única riqueza,
foge,
faz-me ainda mais pobre,
não tenhas mais pena de mim,
corre,
faz de mim misero,
nao deixes cair migalhas de amor
enquanto andas à minha volta,
porque me torturas?
sai da minha cabeça
porque fazes de mim louco,
ajuda-me a levantar,
porque sou um pobre,

porque não seguras na minha mão?
outrora foste pombo,
e cá vieste ter,
agora és gaivota,
meus restos vens comer,
goza,
porque sou um pobre,
não me dês de comer,
sou um alimento do teu espirito,
um mero objecto sobre o qual tens poder
revolve-me as entranhas,
mas deixa-me morrer,
o meu virús é o coração,
mata-me,
porque sou um pobre.

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