Estou sentado,
num canto escuro, sombrio,
no limiar da loucura,
queria voar, mesmo sem asas,
sentir o verdadeiro poder da gravidade
a actuar sobre cada poro da minha pele,
queria poder abrir os braços durante a queda,
sentir a minha resistencia aerodinamica,
sentir-me passaro durante uns momentos,
como tenho frio neste canto em que me encontro,
como vou enlouquecendo,
estou quieto, e no entanto sinto-me tremer,
incontrolavelmente,
queria sentir a impulsão da água no fundo do mar,
ser peixe, mesmo que por breves momentos,
sentir a pressão apertar-me os pulmões,
alucinar devido à falta de ar,
ver tudo de uma maneira diferente,
como enlouqueço e me sinto só,
preso, algemado com algemas que não vejo
e me prendem aqui,
sentado a este canto frio e sombrio,
no fundo de nada,
na intersecção do esquecimento,
como queria sentir o ar fresco lá fora,
como queria ser livre, mesmo que por breves momentos,
livre deste pensamento que carrego
e me pesa, e não me deixa sorrir,
como queria ver as cores do mundo para além
deste cinzento que me cobre,
longe de mim,
do meu verdadeiro ser,
se a morte é negra como dizem,
entao eu já morri,
morri para este mundo que conheço,
porque as cores não as vejo,
nem o meu coração bate,
nem o meu corpo aquece,
como tenho frio neste canto em que me encontro,
como queria fugir, gritar, partir,
mas a minha voz é calada,
queria ser pai e ter familia,
e os unicas filhas que tenho são palavras estéreis,
desprovidas de significado,
no mundo que me rodeia,
porque para este mundo morri,
mesmo antes de ter nascido,
tornei-me cinza, muito antes de ser queimado,
pelo fogo fátuo da vida,
deixei-me ir ficando,
e não lutei pelo meu lugar à luz,
fiquei pequeno,
no meio da imensidão que rodeia,
nesta floresta urbana,
não apanhei o sol da felicidade,
não cresci,
nem nasci, não tive direito à infancia,
porque nunca soube brincar,
porque o meu mundo sempre fui eu,
sentado neste canto escuro e sombrio,
onde o frio me faz estalar os ossos,
e ansear a morte,
não me adaptei a ver o resto da sala,
a virar-me e ver,
as cores que não estavam assim tão distantes,
e no entanto neguei-as,
porque não estavam dentro do meu mundo,
entre o meu nariz, e parede coberta das minhas lágrimas,
no meu jardim as flores são negras,
a relva que me sustenta é cinzenta,
tudo o que me rodeia é a minha imaginação
criada a preto-e-branco,
no canto escuro e sombrio em que me sento,
as crianças são cinzentas e tristes,
as pessoas carentes, deprimidas,
o escuro é negro, a luz branca,
o céu, o céu não está lá,
porque se confunde com a luz branca
que ilumina a escuridão,
levanto-me e caminho para longe deste meu jardim
e exploro a minha imaginação,
caminho pelo caminhos que crio a cada passo que dou,
não saio de onde estou, mas penso que o faço,
vejo arvores de copa rubusta,
cinzentas como tudo o resto,
mais flores, arbustos,
vejo o pó que se levanta com o vento,
vejo e sinto, todo o cinzento de que pinto este mundo,
dou por mim a correr,
perdido na imensidão dos meus pensamentos,
salto por poças de água imunda,
ou talvez sejam lágrimas do meu choro triste
de pensamentos proibidos,
tropeço e caio, na terra cinzenta,
por baixo dos meus pés,
por baixo de mim,
fico deitado, sorrindo,
apesar da dor estou agora feliz,
porque sai para fora do meu mundo,
mesmo que tenha sido nos confins da minha imaginação,
porque apesar de cinzento
tenho as mãos vermelhas,
do sangue que brota delas,
tenho a boca vermelha,
do sangue que brota do meu nariz,
estou perdido num poço de ilusões,
este vermelho não passa de um cinzento diferente,
e eu monotono julgava ter sorrido...
Poesia do Silencio De dentro do ser mais interior que reside na minha alma, produto do subconsciente que habita em mim. O meu pensamento o meu ser.
20050705
Silenciosamente por kristho
Silenciosamente por kristho
à(s) 17:02 |
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